segunda-feira, 20 de julho de 2009

A política desigual e combinada

A inflexão política do núcleo do PT rumo ao PMDB e outros barões e baronetes regionais dentro e fora do Senado já foi cantada em prosa e verso por vários ex-próceres do PT e da teoria acadêmica, de Francisco de Oliveira a José de Souza Martins, passando por Giannotti (1). Ao invés de lançar pontes aos territórios irredentos do povo, de suas maiorias trabalhadoras e dali fazer crescer raízes ainda mais profundas no solo da emancipação nacional e social deplecionadas, o ato heróico da Carta aos Brasileiros foi a soldagem desse núcleo dominante com as aspirações monopolistas, i.e., antiemancipadoras das burguesias. É conhecida a infinita a capacidade dos pequenos burgueses de abraçar e trair as aspirações populares. Camada social vital nos processos das revoluções burguesas conservadoras no âmbito ex-colonial e ex-tardofeudal assim como das ex-vanguardas européias do capital mercantil, carrega consigo as tarefas da revolução e contra-revolução da dinâmica desses processos. No caso do PT, sua perna popular está atrofiando-se na exata medida em que a outra, burguesa, prepara-se para uma maratona. Até quando esse ente disforme manterá sua dupla identidade? Incapaz de levantar vôo com seu pé direito chumbado nas areias maranhenses vai desvelando seu coração burguês em insuperáveis, rocambolescas e laudatórias perorações à fieira de barões assinalados que o freqüentam no paço. Mas atenção, essa inflexão política não decorre de inflexível determinação política, a um retrocesso ideológico inesperado. Deve-se, antes de tudo, à continuidade da função primordial dos interesses materiais burgueses e pequeno-burgueses municipais e regionais representados no parlamento por parcelas importantes do PMDB. A nova pequena burguesia e seus novos líderes políticos-o PT como sua máxima expressão-, está obrigada a abraçar as velhas burguesias para manter-se no poder e continuar a servir desigualmente aos seus dois senhores, as maiorias trabalhadoras e ao capital monopolista. Essa troca desigual e combinada é a dança específica do poder lulista e determina a candidatura Dilma. Nas hostes da servidão monopolista, demo-psdbista, a dança café com leite esconde a escandalosa hegemonia paulista nos interesses do capital. Os neo-liberais paulistas, núcleo pequeno burguês desgarrado do MDB e em sua nova servidão orgânica tão arrogantes quanto o foram os velhos barões do café - agora por seu intermédio novamente no poder do estado com o capital monopolista dominante-, não podem ceder aos reclamos neo-capitalistas regionais mineiros, cearenses ou quaisquer outros. Duas limitações imanentes aos dois pólos contrincantes. A transição transada, operada por Golbery e os líderes oposicionistas - à exceção de Brizola-, como se desejava ocupou os espaços das formas burguesas. As maiorias trabalhadoras não estavam nelas. Elas estavam concebidas para a sua subordinação aos pólos políticos dos entes do capital. O PT não opera o retrocesso histórico. É o capitalismo brasileiro que não superou a sua particularidade miserável.

(1) Martins, José de Souza “E o general Golbery, afinal, não se enganou”, OESP, Aliás, J7, 19/07/09.