segunda-feira, 13 de julho de 2009

Chumbado na areia

Sarney tem razão (1) no que é apoiado por Mino (2). Transforma-se em caça, pois fiel da balança do governo Lula. Após trajetória mais que tradicional, transita da banda de música da UDN a neo-oligarca sob a ditadura militar e fiel da republica após o trágico acaso de Tancredo. Volta agora novamente como centro da governabilidade desgovernada. Os inimigos dessa ordem política querem liquidar esse centro. A gritaria movida pela ira desses falsos pranteadores da crise da democracia e da perda de sentido da política faz por enganar ao pontificar que o atual governo quer o poder pelo poder(3). Isso nunca existiu nem jamais poderá existir nesta república. O senado desta é o principal administrador dos grandes negócios, síntese dos interesses coletivos das oligarquias burguesas regionais e municipais representados na câmara baixa. O conluio dos todopoderosos executivos com frações das oligarquias regionais é a forma histórica da reprodução política nacional e causa de sua permanente instabilidade, seu limite imanente. A ruptura violenta dessas alianças desfaz sucessivamente os nós górdios que atam as formas de dominação política a determinados blocos de interesses econômicos, de modo a configurar as etapas sucessivas de evolução da nossa muito particular revolução burguesa conservadora. Etapas essas as quais, por sua vez, demarcam o território da história em fases bem características. O fim da colônia, da escravidão, da monarquia, da República Velha (pela Revolução de 30) e da quarta república do pós-guerra - nascida da autoliquidação do Estado Novo, golpeada em 45 pelos mesmos golpistas de 64 e depois definitivamente liquidada pelo golpe de estado de 1964. A entrada massiva de uma nova pequena burguesia (boa parte dela de recentíssima matriz proletária) na representação partidário-parlamentar e no poder do estado prenunciava, para muitos, a nova ruptura com a forma política herdada da ditadura. No entanto, seu ímpeto (nada escandaloso, diga-se) democrático social-cristão continua (para escândalo dos ingênuos) a dominação monopolista construída sob a ditadura e atual inequívoca reitora da republica. De modo que a aliança Lula-Sarney, se bem não rompa a dominação e aprofunde a subordinação monopolista, impõe aos apetites hipersubordinantes da dupla PSDB-DEM uma dieta insuportável de superlucros impedidos de alimentar a hiperacumulação do capital financeiro. O sentido da democracia é a realização dos grandes negócios. Sarney está onde está , assim como Lobão - ministro de sua quota-, para a conquista da felicidade de estável futuro ampliado de seus negócios e poder político. Mas aqui está a fragilidade e o limite imanente da reprodução política burguesa na particularidade dos capitalismos da miséria. Necessitadas de manter a mais estável possível aliança com determinados blocos oligárquicos, nossas democracias foram concebidas por seus idealizadores para poderem eleger executivos não subordinados a esses blocos. Daí os liberais sempre estarem tecendo conspirações parlamentaristas e reformas políticas capazes de impedir tal desfaçatez presidencialista, capaz de oferecer ao populacho miserável de representação sindical e político-partidária, excluído da revolução burguesa conservadora, a possibilidade de eleger presidentes populares. Presidentes esses que podem, se assim o desejarem, construir canais de ligação com o poviléu e até partidos que venham a patrocinar tal ligação. Ligação essa que nestes novos tempos ousa chamar-se de novo socialismo para o século XXI, esgotada a fase anterior em que se construíram para um impossível capitalismo democrático, popular e soberano, liquidado pelas mãos dos próprios capitalistas e seus aliados imperialistas. Porém, na continuidade democrático-social-cristã do PT, a manutenção desta exige permanente deriva à direita e chumbamento dos pés no lamaçal das podridões senatoriais, muito especialmente nas de seu pivô Sarney. Para a oposição PSDB-DEM parece não haver limites ao seu ódio e à ira dele derivada: nem o decreto-lei da legalização da grilagem, nem a entrega do pré-sal ao condomínio monopolista, nem a manutenção da imensa dívida interna, nem a transposição do São Francisco e tantas outras concessões continuístas aplacarão a sua sanha letal. Sarney afunda-se na areia movediça de suas façanhas e com ele vai enterrando seu amigo fiel chefe do executivo. Depois da derrota dos Kirchner, do golpe em Honduras e do cerco implacável às revoluções democráticas, populares e socialistas da América do Sul e Central (Cuba), o esmiringuir-se do governo Lula deve levar susto às maiorias trabalhadoras. A revolução conservadora tem por característica carregar consigo a lava permanente da contra-revolução (4)

(1)”Acuado, Sarney se diz vítima da mídia por dar apoio a Lula”, FSP, A-4, 26/06/2009;

(2)“De Sarney dispomos de ficha completa. Por que malhá-lo agora? Porque, e tão somente, está com Lula no apoio à candidatura anti-Serra.” (Mino Carta, Carta Capital, p.22, “Desfaçatez, hipocrisia, ignorância”);

(3)" Até há pouco tempo o Senado parecia resistir, mas, depois da derrota do PT aliado ao PSDB, ambos vencidos pelo senador José Sarney e seu grupo, a maioria dos senadores virou peça importante no jogo da governabilidade isto é, da sustentação particular desse governo, cujo interesse maior é o poder pelo poder", in Giannotti, José Arthur, "Mentiras ao léu", in OESP, Aliás, 12-07-09, J3;

(4)“(…) Bien: Vargas Llosa está diciendo claramente algo que hay que poner a consideración con la mayor amplitud y la menor obcecación: los presidentes elegidos democráticamente (Chávez, Correa, Evo; Kirchner iba en camino de sumarse al grupo, pero el repentino y virulento antikirchnerismo acaba de derrotar en las urnas al kirchnerismo) que plantean no un gobierno sino un proceso, deben ser derrocados, puesto que la sola idea de reformar las respectivas constituciones para permitir, aun con un sistema electoral transparente, su eventual continuidad, es elevada por estos ideólogos al rango de "nuevos golpes de Estado"…(…) “A esta altura, es necio no admitir que una crisis política de proporciones está llegando a la América Latina que intenta emerger como una región con voz propia y que las respectivas burguesías conservadoras y liberales son los motores de los nuevos ánimos golpistas. En los grandes medios, incluso algunos periodistas que insisten en definirse como de "centroizquierda", estas cuestiones no se hablan ni se hablarán porque el poder discursivo ya les aplanó los análisis: acá nadie es "golpista", los que hablan de climas "destituyentes" son idiotas a sueldo del gobierno”…”Quedan preguntas, muchas preguntas válidas e interesantes en este continente históricamente aplastado. La democracia por la que tanto hemos luchado corre riesgos, ahora sobre todo el de representar un valor ético cuando lo que oculta es la reacción del poder ante otro avance de las "masas", las "turbas", las "hordas". Por liderar a "una turba" fue que derrocaron a Manuel Zelaya. Ese golpe en tres días dejó de ser "tan" golpe para los grandes medios. Hay muy buenos reportajes en CNN, firme junto a la posición de Obama, que no es Bush y ahora se nota. Pero en TN, Juan Miceli primero habló de un "golpe que había que condenar" y se indignó de ver a un militar hablar desde un estrado, y al día siguiente ya dijo que "Zelaya tampoco. Después de todo terminaba su mandato en enero". (Sandra Russo,“Resurge la derecha latinoamericana con su estilo sanguinario”, Buenos Aires, Pagina 12/04 de julio de 2009).