quinta-feira, 22 de outubro de 2009

DNOCS 100 anos: uma coleção de êxitos

Faz 100 anos que o DNOCS - criado em 1909 com o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), trocado 10 anos depois para Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs) e substituído, nos anos 40, pelo de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, a sigla atual -- cuida do Nordeste.

Foi o DNOCS que desenhou e implantou a malha rodoviária básica da região; foi ele que construiu as grandes e médias barragens do sertão nordestino e também suas primeiras hidrelétricas; foi o Dnocs que, pioneiramente, criou e desenvolveu no semi árido a piscicultura e a aquicultura; foi o Dnocs que trouxe e instalou aqui os primeiros projetos de irrigação; foi o Dnocs, também, que, até meados dos anos 70, juntou o maior banco de inteligências do País - seus engenheiros, todos geniais, como Guimarães Duque, Luiz Vieira e Paulo Guerra, produziam constante literatura técnica disputada e adotada pelas universidades daqui e d´alhures.

De 1909 a fins de 1970, o DNOCS foi um organismo técnico. Eminentemente técnico. De lá até esta data, por falta de um Plano Nacional de Desenvolvimento Regional, o Dnocs patina na areia movediça dos interesses políticos, que nada têm a ver com os arranjos institucionais próprios da boa política. Há hoje uma luta renhida dos técnicos do DNOCS, que trabalham para que sua instituição retome as suas origens. Mas para isso será necessário entender os novos desafios do DNOCS.

Fonte Coluna Egidio Serpa/ Diário do Nordeste

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Capitalismo da miséria I

CAPITALISMO DA MISÉRIA, EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONTROLE SOCIAL. A PROPÓSITO DA UFFS.

Longe de nós supor ser o nosso capitalismo da miséria transformável em seu oposto através de reformas capitalistas sucessivas. Esta operação metafísica já foi tentada explicitamente no Brasil tanto pela revolução de trinta como pelo desenvolvimentismo no pós-guerra.
Outras operações desse tipo foram mundialmente concebidas por várias correntes ideológicas da filosofia, política e economia política do século XX. Todas igualmente fracassadas e pelo mesmo motivo: a impossibilidade histórica de conter e educar o capital dentro de limites socialmente justos e humanamente necessários.
A teoria do comunismo científico do socialismo real, nos anos setenta, proclamou a superação do estado via sua máxima potenciação, assim como a disciplina plena do capital através do planejamento; a teoria do estado do bem-estar social de matriz keynesiana supôs haver encontrado o modo final de domesticação do capital via teoria da contenção infinita dos ciclos econômicos e da justiça social com abundância consumista através do controle da demanda capitalista; de igual modo o desenvolvimentismo teorizou realizar uma revolução capitalista consentida, realizadora da soberania nacional e da autonomia econômica sem revolução capitalista radical. Esta tripla expressão metafísica da transformação social funda-se na incompreensão da categoria capital como categoria societária mundialmente reitora da ordem capitalista e irreformável posto que seu modo imanente de ser, seu caráter ontológico, está em destruir sistematicamente todos os limites a ela impostos, inclusive o limite da autodestruição da humanidade.
Nas sociedades capitalistas evoluídas através de revoluções burguesas conservadoras – a maioria esmagadora delas, aliás, pois as revoluções burguesas radicais na história do capitalismo são somente quatro: a holandesa, a inglesa, a norte-americana e a francesa –, em especial as de matriz colonial, tal como as geradas a partir do Novo Mundo ibérico, a superação dos capitalismos da miséria ali constituídos é obra capitalista impossível.
Serem sociedades capitalistas da miséria é sua forma histórica necessária, característica, impossível de ser superada a não ser por revolução anti-capitalista, tal como historicamente ocorreu no caso exemplar da revolução cubana. As sucessivas e infinitas revoluções e contra-revoluções políticas ali ocorridas desde a Independência em nada detiveram a marcha do capital.
Assim é que, no Brasil, à revolução de trinta sucede-se a contra-revolução de 64, a qual dará lugar à proclamação in democracia de suas exéquias somente na primeira fala do trono de FHC, em 1995, o qual por sua vez é sucedido pelo governo de Lula que se elege contra o octanato fernandista.
Entretanto, apesar das sucessivas tempestades políticas, de 1930 a este ano da graça de 2009, no terreno da reprodução do capital temos a ascensão vertiginosa do capital industrial e deste ao financeiro e aos balbuceios imperialistas e promessas de segunda independência via capitalização do pré-sal e realização enfim do Brasil Potência desejado mas adiado sob a ditadura e conseqüente entrada no rol dos detentores de complexos militar-industriais agora subordinando a republica à interdependência com a França. Nem Sarney, ou Collor e muito menos FHC ou Lula conceberam controles ou reversão ao capital financeiro em sua marcha imperial-hegemônica acelerada. Ao contrário, foram todos a seu modo, parteiros da modernidade subalterna e monopolista.
O sentido de ascensão à condição de potência monopolista e mantenedora da miséria capitalista por meio da trituração sistemática e metódica do poder popular, democrático, anti-monopolista e anti-capitalista revela o caráter da evolução das revoluções burguesas conservadoras: eternamente abertas e subordinadas às exigências do capital mundial, conservadoras das classes pretéritas aburguesadas (coloniais) e afirmadora das novas classes burguesas a elas aliadas (em especial as velhas e novas pequenas burguesias), devastadoras das dimensões emancipadoras das classes populares e proletárias cronicamente miserabilizadas. Enfim, capitalismo da miséria, capitalismo subordinado, miserabilidades acumuladas em fases sucessivas e necessariamente irresolvidas.
Tudo isto para dizer que o espaço regional da UFFS está concebido como sendo de luta anti-capitalista, de luta social, de possibilidades transformadoras. De experiência teórico-prática, de formação de produtores e reprodutores de saber não somente para as demandas imediatas da produção de mercadorias para o mercado regional ou mesmo internacional, mas para as necessidades vitais urgentes e inadiáveis das maiorias trabalhadoras e da humanidade.
Que não se conta somente com poderosos inimigos externos, mas também e talvez principalmente com poderosas ideologias inimigas no bloco das forças transformadoras.
Que o controle social não só deverá estar presente em todas as instâncias da ação teórico-prática da UFFS, mas deverá ser um processo social construtor de novas e poderosas relações sócio-econômicas, culturais, políticas e institucionais capazes de imprimir marca humana emancipadora à UFFS, à sua produção e reprodução do saber e à sua conseqüente implicação transformadora regional.
Eis algumas notas para a posterior confecção de nossa constituição, aquela que instituirá o controle social.

São Paulo-Laranjeiras do Sul, 05 de outubro de 2009.