domingo, 13 de junho de 2010

O que voce tem para vender?

Vende-se de tudo e de tal modo e monta a manter populações sob perplexidade e o medo de sua finitude iminente.
Vende-se mandados legislativos,florestas e povos milenares,vende-se povos novos.Vende-se vitórias esportivas, vende-se derrotas, verdades e mentiras. É evidente que vende-se reputações, carreiras, biografias, esperanças e até origens étnicas.
A verdade é que os horizontes da mercadoria se expandiram a regiões insuspeitadas da vida social, de modo a manter em suspensão perplexa o alento e o sentido da vida da humanidade.
.o capital monopolista vende vitórias nos esportes;
.Dunga e o complexo internacional do futebol CBF-FIFA vende a arte do povo-o futebol.Funcionario do capital monopolista está se lixando para as consequencias de sua ditadura, da arrogancia,secretismo,disciplina militar descerebrada e ódio à imprensa informativa e opinativa;
.Marina Silva, a despeito da minha primeira impressão,vende o seu futuro mandato para o capital e se faz vender como negra,à semelhança de Obama, pelos critérios racistas norte-americanos;
.os governantes da Africa do Sul e seus amigos vendem a Copa;
.Lula vende o Brasil ao mundo;
.Serra também quer vender o Brasil,mas de outro modo;
.alguns cientistas vendem hidroelétricas.De cambulhada vendem biomas milenares e virgens;
.outros cientistas vendem a energia nuclear;
.alguns ainda mais apressados vendem a mudança do curso dos rios e,assim,a futura felicidade dos ribeirinhos;
.alguns filósofos vendem a mudança definitiva do curso da história,condenada então a ser pasto eterno dos negócios;
.outros ainda querem vender armas, de preferencia as próprias, nacionais;
.um punhado de monopólios vende o destino da humanidade.
Ia me esquecendo.Ao lado desses negócios, está a grande máquina de vender sonhos, todos, quaisquer.E o pior deles, assustador, terrível,o sonho de que toda a verdade crua e nua não passa de um simples sonho.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

OS PROFETAS DE UMA TERRA PROMETIDA: O “TERCEIRO SETOR”.

O objetivo deste artigo é refletir a respeito de algumas concepções recentes sobre o que se convencionou chamar de “terceiro setor”. Partindo do pressuposto de que há na sociedade três segmentos sociais distintos, aprisionados ao mundo das aparências, alguns estudiosos realizam reflexões, críticas ou não, sobre o significado do chamado “terceiro setor”. De modo geral, os pesquisadores do denominado “terceiro setor” esquecem a totalidade social, ignoram que as relações sociais de produção capitalistas determinam a sociabilidade humana e, desta forma, se emaranham em uma grande armadilha conceitual e ideológica.

AS MIRAGENS E FANTASIAS DO “TERCEIRO SETOR”: VOCÊ FAZ A DIFERENÇA.
Nesse campo (das novidades), diz Paulo Arantes (2000), não há conceito ou palavras que não exijam aspas, “Reforma do Estado”, “Administração Pública Gerencial”, “Sinergia”, “Parcerias Felizes”, “Proativo”, “Reativa”, “Sociedade Civil Eticamente Estruturada”, “Incorporação da Cidadania”, “Marketing Social”, “Empresa com Responsabilidade Social”. Como dar o nome certo à coisa certa?
As empresas capitalistas são agora cidadãs, cidadania passa a nomear um novo campo de negócios bastante animado. Negócios que seguem os princípios do gerenciamento estratégico e que disputam nichos de mercados solidários.
Com perdão da má palavra, o fato é que também existe um mercado atraente para as iniciativas cidadãs. Ocorre simplesmente que a mais estrita observância da cláusula sem-fins-lucrativos não é uma barreira à entrada no mundo dos negócios, podendo até representar uma senha privilegiada de ingresso. Segundo consta, a paulatina impregnação pelos usos e costumes da livre iniciativa começa pela inocente elaboração e execução de um ‘projeto’ em conformidade com as exigências de qualquer financiadora (...). Está claro que a carga simbólica que imprime uma ‘aura positiva’ às ações voluntárias sem fim lucrativo não decorre apenas da sua inegável funcionalidade na legitimação das políticas sociais compensatórias recomendadas pelos próprios patrocinadores da devastação econômica em andamento. Tampouco, como quer o discurso edificante corrente, derivaria da pressão moral exercida sobre os agentes econômicos para que se sintam concernidos pela ‘nova cultura de participação cidadã’, como se diz na língua geral do momento. (ARANTES, 2000, p. 6-7, grifos nossos)
Portanto, a miragem do “terceiro setor” emergirá como um “messias motivador”, o poder simbólico da “santíssima trindade” (FERNANDES, 1994). Uma relação triangular harmônica possibilitará a integração entre o Estado (voltado para os interesses universais), o Mercado (calmo e generoso) e a “Sociedade Civil-Terceiro Setor”, ou seja, uma regulação moral da reprodução social no interior do capitalismo monopolista em sua fase de acumulação predominantemente financeiro-predatória.
O surrealismo da empresa que não visa lucro, mas se interessa exclusivamente pelo retorno ético da cidadania como novíssimo fator de produção, responde a essa esquizofrenia de base de um mundo inteiramente racionalizado pela economia monetária, e por isso mesmo sem saída. (...) É que a saída de cena do socialismo tornou evidente, entre outras verificações cruciais, que ele não era apenas um ‘modelo’ equivocado ou irrealista – como se a loucura privatista fosse uma ‘espécie de filtro moral sem o qual a civilização moderna revela-se totalmente incapaz de existir, a economia de mercado sufoca em sua própria imundície (ARANTES, 2000, p.14, grifos nossos).
Todas essas novidades edificam, na realidade, uma grande armadilha ideológica que oculta as raízes estruturais do crescente exército industrial de reserva e a conseqüente precarização e flexibilização do trabalho no mundo.
Felipe Luiz Gomes e SILVA.
(Extrato inicial e final de texto com o mesmo título).

BELO MONTE 1

Alerta à revista Carta Capital 27/04/2010

Estivéssemos ainda sob a ditadura empresarial-militar que precedeu esta democracia dos proprietários e burgueses em geral, diríamos ser compreensível a síntese ousada pela Carta Capital sobre o tema da hidrelétrica do Belo Monte em seu nº 593, “Um mal necessário”.
Contudo, dista muito da realidade o tal intento e, por isso, não consegue disfarçar sua filiação parcial e governista.
Nem os estudos subjacentes à averiguação de sua viabilidade ou os procedimentos formais e legais que conduziram até o conturbado leilão foram suficientes, quanto mais exaustivos e incontestáveis.
Importantes cientistas, estudiosos de longa data da questão energética e ambiental não puderam ainda comparecer às páginas dessa prestigiosa revista, tais como os professores Ildo Sauer, Osvaldo Arsenio Sevá ou Sinclair Mallet e tantos outros (e que tal antropólogos, geógrafos, historiadores, pajés e outros chefes nativos, biólogos, sanitaristas, etc.?).
Dado o salto qualitativo na escala predatória das elocubrações e feitos deste nosso velho capitalismo da miséria, agora monopolista e desde sempre subordinado, é da mais vital importância para as atuais e próximas gerações brasileiras (e por que não dizer da humanidade) o estudo o mais amplo e gabaritado possível dos descalabros energético-ambientais que se sucedem nos governos desde os tempos da ditadura formal. O ancestral descontrole social sobre o capital vem impondo às nossas maiorias sofredoras da ordem a exclusividade do seu projeto colonial desde 1500. Para além dos engenheiros oficiais e oficiosos do governismo de plantão, há uma vasta, séria e perplexa humanidade atenta ao nosso destino.

O Declínio do Homem Público, Capitalismo Flexível e a Universidade no Século XXI.


“La enajenación y las kafkianas cucarachas” (Gonzalez, J.)

Afirmei em texto(20/03/10) que os donos do mundo podem ter suas Bombas da Paz a granel, com o generoso B. Obama só terão 1.550 ogivas nucleares. Há algum tempo os USA experimentaram (1946-1958) mais de 20 artefatos da paz no Atol de Bikini e os habitantes das ilhas ainda convivem com a contaminação. Muitos gestores, apegados a seus cargos burocráticos, tomam competentes decisões sobre a vida de milhares de seres humanos. A racionalidade das organizações burocráticas, estudadas com profundidade pelo alemão Max Weber, pauta-se pela eficiência técnica, ou seja, a coerência entre os meios empregados e os fins almejados. Se o objetivo é experimentar a eficiência das bombas que se danem os princípios éticos. Eu continuo com minha mania de ler livros, pois aprendo com este diálogo solitário. Cristophe Dejours, especialista em psicopatologia do trabalho, escreveu uma obra especial, “A Banalização da Injustiça Social”. Segundo Dejours, a injustiça social avança com a precarização, terceirização e flexibilização laboral. Diante da competição mundial acirrada, dos altos níveis de desemprego e da fragilização dos sindicatos as empresas capitalistas elevam as taxas de exploração do trabalho ao paroxismo. O pior é que os gestores das universidades estão copiando esta eficiente ideologia gerencial que tem provocado mortes por “overdose” de trabalho (karoshi) e várias psicopatologias organizacionais. No livro de C. Dejours há uma profunda reflexão sobre o “sofrimento ético” de gerentes que encarnam o espírito desta moderna “ciência gerencial”. Por meio de técnicas de controle social as burocracias empresariais flexíveis buscam a “servidão voluntária” (E. La Boétie) da classe proletária, a docilização dos “colaboradores proativos”. Mas é preciso deixar claro que nem todos os gerentes que sigilosamente demitem os operários experimentam o “sofrimento ético”; é sabido que a “corrosão do caráter” (R. Sennet) estimula certo sentimento de prazer, mesmo quando decisões são injustas. Os pequenos gestores, na disputa pelos “micros- poderes” participam de forma animada da dramaturgia burocrática (Thompson, V.). Diz C.Dejours, “a atual conjuntura favorece o sigilo e o cada um por si”. Estou acompanhando a triste história do Prof. Josef K. da Universidade Federal do Agreste da PB. Ele foi “pego de surpresa” com publicação de um Ato Administrativo arbitrário que cortou 1/4 de seus proventos e o pior, não teve nenhum espaço para defesa. É óbvio que esta forma de ação dos pequenos burocratas, que tem seu fundamento no individualismo mercantil (declínio do homem público, Sennet, R.), produz patologias psíquicas e sociais. Diz R. Sennet: “os pequenos gestores sabem que, mesmo mercantilizando a alma, não têm seus micros-poderes garantidos”. Com o avanço acelerado do modo de destruição capitalista “tudo que é sólido desmancha rápido no ar”. Speed as skill... (Publicado no Jornal Primeira Página – São Carlos. 04/05/10- Opinião- p. 2.)
Felipe Luiz Gomes e Silva- felipeluizgomes@terra.com.br,

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Capitalismo da miséria (1)

A miséria é uma categoria total, ou seja, macula e determina o caráter de todos os momentos da reprodução social.
Nascemos da miséria ibérica e suas determinações imanentes: sociedade miserável feudal-mercantil. Fomos paridos por revoluções burguesas conservadoras ideadas por uma nobreza altamente vinculada aos negócios do capital. Criava-se um território real do e para a acumulação do capital a todo o preço, sem peias de qualquer tipo, sequer as religiosas, pois a igreja participava solidariamente do empreendimento colonial. Território colonial do capital, das classes que participavam do negócio: nobreza, clero, burguesia. Desta, dos seus poucos membros inicialmente imigrados parcela significativa de pequenos burgueses recém cristianizados, ex-judeus, ou seja, recém despojados de sua religião ancestral. Momento nuclear da organização da revolução conservadora é a Inquisição, criação política hispano-clerical-monárquica espraiada a Portugal, de repressão à burguesia ascendente após a Reconquista - já bem instalada entre as famílias dos novos grandes de Espanha - assim como das revoluções política, científica e religiosa vinculadas à ascensão burguesa que já davam o ar de sua graça em outros reinos europeus. A revolução burguesa conservadora é desse modo, reação contra-revolucionária em todos aqueles campos da reprodução social contrastantes com os seus limites monarquico-clericais. Foi, no caso ibérico, processo de longa duração, todavia vigente e seu significado esteve e permanece sendo a contenção máxima da emancipação em limites gritantemente rebaixados com relação aos processos da transição capitalista das revoluções burguesas radicais quanto das demais etapas dessa transição ocorridas nos séculos XIX e XX. Rebaixamento ao nível do desumano, do escandaloso, do incrível, do grotesco, do fantástico. Nascidas da desumanização radical dos proletários paridos na escravidão, suas classes burguesas tornam-se naturalmente costelas desse marco zero da humanidade, pois sustentáculos da manutenção desse modo de ser da acumulação do capital e, portanto, entes igualmente desumanos. Daí poder-se falar em forma específica de desenvolvimento capitalista, redundante em capitalismos da miséria. (SP, 9/03/2010)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

CHUVA DE CATÁSTROFES E EXPLOSÃO DA MISÉRIA

As catástrofes inevitáveis explodem a miséria, lançam à cena pública uma miríade de seus mil pedaços através de seus vários personagens. O secretário de obras, o governador, o prefeito, o presidente da república, o pai de família desesperado com a morte de seus filhos, a mãe de família idem, os repórteres e bombeiros, os vizinhos e parentes, o professor da COPPE especialista em risco, o arquiteto e o urbanista, o médico e a criança repentinamente órfã. A televisão organiza a ópera dos mortos, horas mostrando a agônica busca por soterrados e as águas desrespeitosas a inundar redutos de maiorias miseráveis e minorias ricas. Um carro se despenca sobre uma das três garagens do velejador rico, arrastado por uma encosta que cruza a rodovia por onde ele passava. Salvam-se mãe e criança, salvas pelo dono da casa que também deverá após isso abandona-la. No morro do Bumba, em Niterói, havia um velho lixão desativado, sobre o qual os miseráveis (alguns deles até ascendidos à nova classe media inventada nos jornalões e órgãos interessados na liquidação administrativa da miséria) construíram suas casas e passaram a viver com as suas famílias. Com as chuvas o lixão moveu-se e dezenas de casas foram arrastadas morro abaixo. Desgraça sobre desgraça. Todas as relações miseráveis desventradas, escancaradas em praça pública e por todo o lado gritos de contrição, desculpas, acusações cruzadas de incompetência administrativa, olhares culpados, vergonha pública a tagarelar sobre supostas causas e efeitos. Todos, ricos, pobres e remediados partícipes e cúmplices da opera da miséria, todos miseráveis. O que os nichos acadêmicos, administrativos, flagelados ou televisivos não sabem ou não ousam dizer é que a miséria é a forma histórica de reprodução desta nossa sociedade capitalista, ou seja, nossa forma de existir subordinadamente sob o império do capital. Nabuco já dizia isso da sociedade escravocrata, a qual, intransformada, lépida marchou através de revoluções e contra-revoluções rumo à sua miserabilidade transformada, porém mantida. Capitalismo da miséria ao lado da constelação de outros vários seus irmãos de matriz colonial ibérica. Sociedade capitalisticamente intransformável em suas co-irmãs paridas por revoluções burguesas radicais na Europa ou Ásia. Para não dizerem que só os discípulos de Marx pensam assim, até nosso maior pensador econômico keynesiano-humanista, Celso Furtado há muito já sabia disso. Dizia ele com todas as letras em 1974, em seu livro O mito do desenvolvimento econômico “(...) o desenvolvimento econômico – a idéia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável. Sabemos agora de forma irrefutável que as economias da periferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de similares às economias que formam o atual centro do sistema capitalista. Mas, como negar que essa idéia tem sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e leva-los a aceitar enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de cultura arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo? Cabe, portanto, afirmar que a idéia de desenvolvimento econômico é um simples mito. Graças a ela tem sido possível desviar as atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abre ao homem o avanço da ciência, para concentra-las em objetivos abstratos como são os investimentos, as exportações e o crescimento.(...) esse mito (é) seguramente um dos pilares da doutrina que serve de cobertura à dominação dos povos dos países periféricos dentro da nova estrutura do sistema capitalista.” (1) Essa economia insuperavelmente subdesenvolvida faz com que: “A característica mais significativa do modelo brasileiro é a sua tendência estrutural para excluir a massa da população dos benefícios da acumulação e do progresso técnico. Assim, a durabilidade do sistema baseia-se grandemente na capacidade dos grupos dirigentes em suprimir todas as formas de oposição que seu caráter anti-social tende a estimular.” (2) Os pequeno burgueses e seus aliados no poder esqueceram-se disso em seu afã de reinventar o desenvolvimentismo e servir ao capital monopolista em seu salvacionismo pró-capitalista extemporâneo.
São Paulo, 8/04/2010
(1)p.75-76;(2)p.109