segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Declínio do Homem Público, Capitalismo Flexível e a Universidade no Século XXI.


“La enajenación y las kafkianas cucarachas” (Gonzalez, J.)

Afirmei em texto(20/03/10) que os donos do mundo podem ter suas Bombas da Paz a granel, com o generoso B. Obama só terão 1.550 ogivas nucleares. Há algum tempo os USA experimentaram (1946-1958) mais de 20 artefatos da paz no Atol de Bikini e os habitantes das ilhas ainda convivem com a contaminação. Muitos gestores, apegados a seus cargos burocráticos, tomam competentes decisões sobre a vida de milhares de seres humanos. A racionalidade das organizações burocráticas, estudadas com profundidade pelo alemão Max Weber, pauta-se pela eficiência técnica, ou seja, a coerência entre os meios empregados e os fins almejados. Se o objetivo é experimentar a eficiência das bombas que se danem os princípios éticos. Eu continuo com minha mania de ler livros, pois aprendo com este diálogo solitário. Cristophe Dejours, especialista em psicopatologia do trabalho, escreveu uma obra especial, “A Banalização da Injustiça Social”. Segundo Dejours, a injustiça social avança com a precarização, terceirização e flexibilização laboral. Diante da competição mundial acirrada, dos altos níveis de desemprego e da fragilização dos sindicatos as empresas capitalistas elevam as taxas de exploração do trabalho ao paroxismo. O pior é que os gestores das universidades estão copiando esta eficiente ideologia gerencial que tem provocado mortes por “overdose” de trabalho (karoshi) e várias psicopatologias organizacionais. No livro de C. Dejours há uma profunda reflexão sobre o “sofrimento ético” de gerentes que encarnam o espírito desta moderna “ciência gerencial”. Por meio de técnicas de controle social as burocracias empresariais flexíveis buscam a “servidão voluntária” (E. La Boétie) da classe proletária, a docilização dos “colaboradores proativos”. Mas é preciso deixar claro que nem todos os gerentes que sigilosamente demitem os operários experimentam o “sofrimento ético”; é sabido que a “corrosão do caráter” (R. Sennet) estimula certo sentimento de prazer, mesmo quando decisões são injustas. Os pequenos gestores, na disputa pelos “micros- poderes” participam de forma animada da dramaturgia burocrática (Thompson, V.). Diz C.Dejours, “a atual conjuntura favorece o sigilo e o cada um por si”. Estou acompanhando a triste história do Prof. Josef K. da Universidade Federal do Agreste da PB. Ele foi “pego de surpresa” com publicação de um Ato Administrativo arbitrário que cortou 1/4 de seus proventos e o pior, não teve nenhum espaço para defesa. É óbvio que esta forma de ação dos pequenos burocratas, que tem seu fundamento no individualismo mercantil (declínio do homem público, Sennet, R.), produz patologias psíquicas e sociais. Diz R. Sennet: “os pequenos gestores sabem que, mesmo mercantilizando a alma, não têm seus micros-poderes garantidos”. Com o avanço acelerado do modo de destruição capitalista “tudo que é sólido desmancha rápido no ar”. Speed as skill... (Publicado no Jornal Primeira Página – São Carlos. 04/05/10- Opinião- p. 2.)
Felipe Luiz Gomes e Silva- felipeluizgomes@terra.com.br,