domingo, 20 de novembro de 2016

A linha tenebrosa O estado de exceção que nos impõe o fascismo pátrio promove, com o emprego sistemático da mentira e da violência institucional cuja mão enganadora é a Lava Jato, uma longa caminhada pelas trevas. Ela passa, como era de se esperar, pela transformação da arbitrariedade em norma, e esta, em verdade revelada, autoexplicável. Ou seja, passa por ir borrando, lance a lance, a legalidade jurídica anterior e sua substituição pelo arbítrio, transformado este em versão acertada daquela. Garotinho preso e arrancado a muque do hospital, debatendo-se na maca e acompanhado pelo coro de gritos e uivos de sua mulher e filha? Mas ele é mesmo um ladrão, quem não sabe disso? Agora esperneia, mas e o povo que ele lesou não sofreu infinitamente mais?- é opinião de muitos. Os bacanas vão em cana, como passa a rezar uma marchinha de carnaval recém saída do forno. Será? A revolução da contrarrevolução promove o caos organizado, cuja teoria já havia norteado o desmantelamento da URSS. A começar pelo Uzbequistão, a mais exemplar das repúblicas orientais da URSS, iniciou-se uma suposta devassa anti-corrupção com o envio pelo Estado e Partido de dois promotores plenipontenciários que ali promoveram uma desorganização tal, seguida de assemelhadas razzias em outras repúblicas, de modo a permitir que a manobra de conquista do Comitê Central do PCUS pelos neoliberais ocorresse sem maior visibilidade. A falta de conhecimento do que vem ocorrendo no mundo faz com que a Lava Jato seja confundida como salto qualitativo na república. A regressão se fantasia de avanço, eis o truque. Nós caminhamos por esta senda tenebrosa. Mas é de se notar o rápido afrouxamento e ruptura dos pespontos do alinhavado. Calero se demite do ministério, põe a boca no mundo e denuncia Geddel, o Bárbaro. Lewandovsky, prussianamente manda Gilmar Mendes plantar favas em plena sessão do STF. “Me esqueça”, pronuncia. Em seu lugar é posto o prócer Roberto Freire, talvez mais amigo do personagem denunciado por Calero. Enquanto isso, o capital financeiro, bancos à frente, escorcham a pátria e todos os assalariados. São os mestres da nova ordem do progresso. SP, 19/11/2016