sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A contrarrevolução não pode cortar seus próprios braços

A CONTRARREVOLUÇÃO NÃO PODE CORTAR SEUS PRÓPRIOS BRAÇOS Imaginemos um comando de ativistas comunistas clamando pela instauração imediata, no Brasil, de uma ditadura do proletariado, em pé sobre a mesa central da Câmara dos Deputados, em Brasília. Não haveria, hoje, este silêncio antártico sobre o episódio. Todas as fanfarras da imprensa escrita, falada e audiovisual tocariam em uníssono o hino da liberdade. Haveria um ruído ensurdecedor e a gestação de um clima de comoção nacional. No entanto, um comando fascista, a soldo de quem sabe quais patrocinadores, dançou ontem sua dança macabra sobre o mesão central da Câmara. Hoje reina este silêncio sepulcral. O desespero de Garotinho, sojigado por meganhas da PF à sua maca feito embrulho mal feito, transportado às pressas para ao presídio Bangú, passará despercebido. Será tomado como fato natural desta farsa de guerra contra as elites, como todo bom fascismo fez, faz e seguirá fazendo história afora, sob os aplausos das pequenas burguesias e basbaques de sempre. Passo a passo ou em marcha forçada, pausada ou célere, o dinamismo fascista vai tecendo a sua nova malha oficial sobre a mortalha da democracia da contrarrevolução. O juiz que pode o máximo, mandar à prisão os ex-governadores Garotinho ou Cabral, achou-se incapaz de fazer vigir as normas de confinamento do paciente preso em quarto do Hospital Souza Aguiar e o fez ser arrastado como saco de batatas sobre uma maca, aos gritos de sua mulher, prefeita e sua filha, deputada. Tudo filmado e registrado, exposto na TV, sob o deboche irritado dos comentaristas Globais, unânimes ao constatar a conduta imprópria do réu e seus familiares. Amarrados às cruzes, os condenados nos autos-de-fé, deveriam se comportar com recato e sentido do dever perante as autoridades constituídas, não importa se estas eram desumanas, injustas, cruéis, despóticas e genocidas. De lá para cá os condenados por ideologia desaprenderam a se comportar como réus disciplinados, educados, enfim, civilizados. Nenhum grito de repúdio desde os sertões da Lava Jato, nenhum ato de repúdio vindo da Câmara maculada, nenhuma proclamação à nação ouvida desde os desertos de sabedoria vindos de qualquer dos próceres liberais, tão ardorosamente empenhados na sarabanda democrática contra os infiéis. A ordem reina em Brasília. A contrarrevolução não pode cortar os seus próprios braços, por mais que um deles a desagrade. Sua bandeira caminha impertérrita pelos sertões da pátria, à caça dos novos hereges, para os negócios da colônia, para a grandeza da metrópole, para a riqueza dos conquistadores, para a salvação de seu reino. Enfim, para a ordem e o progresso. (SP, 18/11/2016) GAROTINHO SE DEBATE NA MACA Decidiu o juiz que o excesso de privilégios autoconferidos pelo secretário municipal de Campos dos Goytacazes, recém-preso e, devido às circunstâncias médicas, em seu leito hospitalar no Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, exigiam sua imediata remoção ao presídio de segurança máxima Bangú sei lá que número. Sojigado por meganhas da PF – quantos? Dez, quinze, não soube conta-los com exatidão – a mantê-lo preso à maca na qual o réu se debatia. Os gritos de sua mulher, prefeita de Campos, e de sua filha, deputada estadual, não comoveram o comando médico-policial ou vice versa, não saberia dizer, o qual o meteu a trancos e barrancos dentro da ambulância e tocou célere para o presídio. Em ritmo alucinante, dia a dia, metódica e cruel, a contrarrevolução, em sua quarta fase de vida, vai impondo ao país seu amargo vermífugo, sua nova e pequenina democracia – sua ditadura democrática de classe – vai tecendo a mortalha que nos manterá ainda mais vulneráveis ao massacre econômico e social que a Operação Lava Jato pretende ocultar. Diz que vai nos salvar das lombrigas que nos assolam desde 1500. Desde que os índios, em seu desespero e humilhação de cativos começaram a comer terra para morrer e, assim, se verem livres da salvação, essas lombrigas nos assaltam as entranhas, nos parasitam sem remédio. (SP, 18/11/2016)